Descrevem-se os pigmentos usados na pintura europeia da Idade Média, focando a atenção sobretudo naqueles que foram descobertos durante esse período. Devido a limitações de espaço, o trabalho foi dividido em duas partes. Na primeira, que agora se publica, referem-se as principais obras medievais escritas sobre os materiais empregados pelos artistas e os respectivos métodos de preparação, e discutem-se os pigmentos vermelhos. Na segunda, que se publicará no próximo número do Boletim, examinam-se os pigmentos de outras cores.
A Idade Média corresponde tradicionalmente ao período decorrido entre a queda do Império Romano do Ocidente em 476 e o Renascimento, que no tocante às Belas-Artes alvoreceu em Florença e nos Países Baixos por volta de 1420. Foi um período de quase mil anos, durante o qual no mundo cristão a Igreja, que crescera rapidamente depois de 313, data em que Constantino concedeu liberdade de culto aos Cristãos, concentrou em si toda a autoridade em questões de natureza espiritual, moral e intelectual. Assim, durante este período, os objectivos principais no domínio da arte cristã consistiram na criação de espaços arquitectónicos destinados ao culto religioso, no embelezamento das superfícies murais contidas nesses espaços
– sobretudo com pinturas e mosaicos
– e no ensino e difusão das ideias e valores do cristianismo para o que contribuiu significativamente a produção de manuscritos iluminados. Por outro lado, no mundo muçulmano, que começou a formar-se na Arábia após a morte de Maomé em 632 e se expandiu com extraordinária rapidez através do Próximo Oriente, Norte de África e Península Ibérica, o Islão, embora não tenha utilizado a arte como meio de difusão das suas ideias em virtude da interdição de Maomé contra a idolatria, exerceu também uma influência muito considerável no seu desenvolvimento sobretudo na área da arquitectura. Pode dizer-se, portanto, que a arte da Idade Média se caracteriza essencialmente pela constância de temas próprios daquelas religiões, aliada a uma grande variedade de estilos causada pela amplidão do tempo e dos territórios abrangidos. Dependendo do estilo, é costume dividi-la em diversas classes nomeadamente, paleocristã, bizantina, muçulmana, da Europa bárbara, carolíngia, otoniana, românica e gótica .Convém salientar que a partir do séc. VI os principais centros da actividade religiosa e intelectual na Europa cristã foram os mosteiros, alguns dos quais desempenharam um papel muito importante dos pontos de vista econômico e cultural como, por exemplo, a exploração de grandes propriedades agrícolas, o ensino, a cópia e criação de manuscritos, e a feitura de obras de arte entre as quais pinturas e iluminuras. As escolas monásticas foram depois substituídas pouco a pouco por escolas episcopais, também chamadas catedrais por serem escolas urbanas adstritas às sés. Além disso, no séc. XII, devido ao crescimento rápido do número de estudantes e à propagação do espírito corporativo que se instalara por todo o lado, começaram a surgir as universidades, primeiro em Bolonha, Paris e Oxford, e nos séculos seguintes noutras cidades da Europa. Contudo, as Belas-Artes ficaram delas arredadas apenas uma ars mechanica (medicina) foi incluída nos seus programas de ensino o que não surpreende atendendo ao desprezo que nessa época se tinha pelo trabalho manual relativamente ao intelectual. Deste modo, a escassez de obras escritas na Idade Média acerca das artes resultou em grande medida desse fato.
É de salientar ainda que, durante este período, sobretudo entre os séculos IX e XV, se estabeleceu na Europa o feudalismo regime político-social caracterizado pela multiplicação dos laços de dependência pessoal (vassalagem) como condição para a posse de terras – o qual levou ao enfraquecimento do poder central, ao fortalecimento do poder da nobreza senhorial e ao aumento da pobreza. A estrutura da sociedade passou então a caracterizar-se por um excessivo contraste entre o número restrito de riquíssimos senhores e a enorme massa de gente paupérrima. Alguns desses senhores, à semelhança dos seus soberanos e da Igreja, foram patrocinadores das artes contribuindo também de modo significativo para o seu desenvolvimento.
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